Ao longo da vida, por diversos motivos, vamos deixando
nossos sonhos para trás e vivendo uma vida que muitas vezes não é o que
queríamos, mas o que sonharam para nós e aí vamos vivendo com mal humor, dores,
doenças somáticas, buscando no outro a satisfação que deveríamos buscar em nós
mesmos. Entregamos nossa felicidade nas mãos de quem não tem a menor obrigação
de nos fazer feliz, pois cada um é responsáveis por sua própria vida e
felicidade.
No entanto nosso sonho, aquilo que nos realiza e faz feliz,
fica guardado em algum lugar dentro de nós querendo sair, até que um dia de
alguma forma a vida nos faz um confronto e nos coloca em uma posição em que
só temos duas opções: ou mudamos e vamos atrás daquilo que nos faz feliz,
realiza como pessoa ou nos conformamos e permanecemos presos e
estagnados numa vida que não foi projetada para nós.
E então sentimos um incomodo, sabemos que
temos que fazer algo, mas não sabemos exatamente o que é já que os sonhos se
perderam ao longo do caminho e nem sabemos exatamente no que nos transformamos. E
reconstruir uma personalidade autentica a partir de pedaços de sonhos deixados
pelo caminho é como montar um quebra cabeça.
Aos 40 anos, com uma vida estável me deparo com um imenso
desejo interno de fazer algo diferente, dar rumo novo a minha vida, mas não
sabia exatamente o que fazer pois segundo a sociedade, já teria “passado da época” de começar algo.
Foi aí que a dança ressurgiu na minha vida. Um sonho antigo, de criança que
deixei para trás para construir uma vida segura e estável, sem saber que nessa
vida nada é verdadeiramente seguro, tudo pode desmoronar ou mudar sem que nos
demos conta.
Então despretensiosamente iniciei as aulas de dança de
salão, algo que sempre quis fazer, mas nunca havia me dado a oportunidade e
acabou surgindo como uma válvula de escape para os problemas cotidianos, e
junto com a dança veio a paixão, daquelas que nos faz sentir viva, livre, capaz
de qualquer coisa...
Só que sempre bate aquele medo, insegurança... Será que vai dar certo, será que devo insistir
nisso? E vem a vontade de desistir, de deixar para lá... As mudanças terão que ser muitas e grandes,
será que vale a pena?
E aí num baile da vida, já meio desanimada por não saber dançar
tão bem, numa dança ouço a seguinte frase: “Estar começando agora não quer
dizer nada, existem pessoas que já nascem preparadas para algumas coisas, e vc
nasceu preparada para dançar...” Era o que eu precisava ouvir para ter certeza
de estar no caminho certo! Mas esse é o primeiro impulso de uma grande jornada
que ainda não sei onde vai dar.
“A dança surge das profundezas do ser humano: é
movimento de vida, de intimidade:
é impulso
de união à espécie.”